domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sustentabilidade Manauara


Sou amazonense, manauara, nascido nessa terra que há muitos anos vem perdendo suas características naturais para o crescimento antrópico. Vejo nossos governantes utilizando-se de um apelo ambiental, para promover a região, mas, a cada obra executada, esse apelo perde o sentido. Vivemos rodeados por uma imensa floresta, sendo que, na cidade, não temos árvores para nos fornecer seus serviços ambientais.
Na imagem, temos uma foto (já antiga) da Ponte do São Raimundo, onde agora várias dessas casas foram retiradas para desobstruir as margens. 

Verifica-se que o crescimento da cidade ocorre apenas na parte física e geográfica, aumentando a ocupação de terras; a entrada e circulação de veículos; sem que haja um planejamento efetivo das consequências desses fatos. Nossa economia é totalmente dependente de um modelo que já se mostra frágil perante o dinamismo de mercado. 

A Zona Franca, que pôs a região no mapa, tornou-se o Polo Industrial de Manaus (PIM), que poluiu milhares de hectares e metros cúbicos. E continua poluindo, em escala bem menor (reconheço). Os mais velhos não se cansam de falar das vezes em que tomavam banho em certo 'igarapé', que hoje está totalmente poluído. São centenas de cursos d’água, com as mesma estórias nostálgicas, que me faz pensar como seria essa terra caso tudo isso permanecesse... Teríamos um grande potencial turístico (muito maior que o habitual) dentro da cidade, e uma forma de lazer mais acessível. Seríamos uma Veneza dos trópicos, como já ouvi falar. 

Mas a sustentabilidade da nossa cidade, do nosso modo de vida que é preocupante. Falo da sustentabilidade como um todo (econômica e ambiental). Cada um procura seu lugar ao sol, pois precisamos nos sustentar, realmente. E de que forma fazemos isso? Quase sempre sem planejamento, procurando o jeito mais fácil (que pode ser prejudicial a alguém ou alguma coisa); sendo que ‘nem sempre a menor distância entre dois ponto é uma reta’. Às vezes, necessitamos passar por longos caminhos e processos (mais onerosos) para chegar a um lugar sem causar muito dano. Nessa outra imagem, temos uma foto do Igarapé do Quarenta, parte que corta a Av. Silves. Ele já foi um local de entretenimento para alguns de nossos avós...

Temos instituições que buscam monitorar e fiscalizar atividades econômicas para que poluam o mínimo possível; instituições que auxiliam no direcionamento daqueles que desejam empreender; etc.
No entanto, são apenas alguns poucos para milhares de nós! Sem conhecimentos, muitos acabam perdidos em meio a um mundo complexo, cheio de regras e leis bonitas no papel, mas sem aplicabilidade dos direitos e deveres. E, devido à grande escassez dos recursos públicos, acabamos nos sentindo desorientados quando algum problema nos aflige. Posso dar exemplos...

Quando atuava na parte técnica de um laboratório (área ambiental), fazendo coletas de amostras diversas para análises (água para consumo humano, efluentes, dentre outros), percebi o quanto é frágil esse sistema de monitoramento e fiscalização público. Para atender as condicionantes, impostas pelos órgãos ambientais, muitos se valem de estratégias subversivas para ludibriar aqueles que podem "prejudicar" suas atividades. Ou seja, para ser mais rentável, muitas vezes, é preciso deixar de obedecer algum critério, acabando por causar algum dano ao ambiente e/ou ao ser humano. A única forma de não compactuar com essas práticas é por meio da subjetividade, ou seja, sendo ético. Assim, fica nas mãos do homem, tanto proteger quanto danificar o meio ambiente.

Felizmente, na empresa onde trabelhei, tal 'vista grossa' era repudiada e os funcionários instruídos a fazer o correto, mesmo que isso não precisasse ser dito! É o que qualquer cidadão de bem deveria fazer! Mas da forma como a sociedade evolui, oportunista, as pessoas ficam com vergonha de fazer o certo, pois acaba se destacando dos demais.

Às vezes, durante o deslocamento de uma empresa e outra, sentia um cheiro forte de gás, parecido com gás de cozinha. Era algum vazamento proveniente de alguma industria. Existem mais de 600 empreendimentos instalados no PIM... Como identificar a fonte do vazamento? Agora com a oferta do Gás Natural, poderia ser qualquer uma que utiliza tal fonte de energia. Ninguém sabe! E os órgãos ambientais mal conseguem enxergar a poluição no solo e água, imagina no ar! Moro nas proximidades do PIM (alguns Km...) e não é novidade esse cheiro forte de gás. Quando ligamos para pedir informações e reclamar desse vazamento, somos apenas informados que não existe tubulação de gás nas proximidades e que deve ser um vazamento doméstico! Chega a ser assustador, a impotência que sentimos.